A CRISE GLOBAL DA COVID-19 PELA LENTE DO ENEAGRAMA

TRANSFORMANDO UM MOMENTO DESAFIADOR EM OPORTUNIDADE PARA DESPERTAR

LIÇÕES POTENCIAIS PARA OS TIPOS E SUBTIPOS DO ENEAGRAMA

Este post se baseia em um trabalho criado por Beatrice Chestnut em colaboração com Urânio Paes.

Ofereço estas reflexões sobre o significado potencial da pandemia global partindo de uma perspectiva ampla e de uma perspectiva do Eneagrama. Minha esperança é poder oferecer apoio aos entusiastas do Eneagrama para que, juntos, possamos engajar em nosso trabalho interior. Pretendo colaborar para que aproveitem as oportunidades de engajar em seu trabalho específico, com a intenção consciente de conquistar, neste momento de incerteza sem precedentes, uma maior consciência individual e coletiva.

Parece que o momento assustador pode nos empurrar para um tipo de despertar do nosso estado habitual de sono, ao qual somos bastante apegados e normalmente tendemos a resistir em circunstâncias normais.

Acredito que esta experiência de "despertar forçado" oferece oportunidades específicas de crescimento e clareza em torno de mudanças individuais e coletivas que podem (e devem) ser trabalhadas com intenção consciente. E o resultado é que podemos sair disso tudo com mais tranquilidade e progredir em nossas jornadas de crescimento, tanto no individual como no coletivo, se nos mantivermos abertos às lições que o momento nos oferece. Mesmo que, é claro, também tenhamos que suportar um período de sofrimento.

Há cinco temas-chave surgindo que podem nos guiar para uma fase de experiência de vida compartilhada compreensivamente assustadora, mas que podem servir para concentrarmos nossa atenção num significado maior. Discutirei três deles aqui, na íntegra, e os conectarei a insights específicos baseados no Eneagrama ligados aos tipos e instintos. Concluirei apenas nomeando os outros dois.

Embora todos nós enfrentemos desafios muito reais, especialmente os trabalhadores do setor de saúde, aqueles que estão doentes ou temerosos de adoecer e as pessoas em todos os lugares afetados economicamente pela paralisação global dos negócios, acredito que podemos escolher lidar com essas dificuldades de forma intencional se optarmos por vê-las como uma oportunidade para o despertar coletivo. Infelizmente, muitas vezes é preciso uma dor extrema e um desconforto extremo para despertarmos, como nos dizem os ensinamentos por trás do Eneagrama. Quando ficamos presos a rotinas familiares relacionadas à sobrevivência ou apenas ao hábito, pode ser extremamente difícil perceber como nossas suposições inquestionáveis sobre como precisamos direcionar nossas vidas podem precisar ser reexaminadas e realocadas. Em resumo, este pode ser um momento de criação a partir da destruição, de mudança para uma oitava mais elevada. Uma trajetória mais elevada de crescimento por causa de um choque com consciência.

Para ilustrar alguns dos impactos potenciais e convites para um crescimento mais profundo, destacarei as consequências potenciais particulares do tempo presente para diferentes tipos e subtipos de Eneagrama, conectados a três oportunidades-chave para o despertar.

Enquadrando estas 3 "oportunidades", eu nos encorajo a concentrarmos no que poderia nascer ou ser renovado a partir do caos e insegurança atuais.

#1 A oportunidade de romper com os padrões e trincheiras de inconsciência produzidos pela parada forçada de atividades, negócios e vida "normais".

Uma das principais coisas que o estudo do modelo de transformação do Eneagrama nos ensina é que todos nós ficamos presos a padrões profundamente enraizados que se tornam cada vez mais difíceis de ver. E por serem assim, tornam-se muito difíceis até mesmo de identificar. E se resistirmos a ver que padrões podem precisar mudar em nome de nosso bem maior, fica difícil decidir fazer o trabalho de romper conscientemente esses padrões potencialmente limitadores. Mas como todo o planeta foi forçado a "ficar em casa", precisamos parar todas as rotinas normais. Este vírus pôs um fim às nossas vidas normais de uma forma que não escolhemos, mas devemos nos adaptar.

Isto nos levou a uma posição em que não podemos deixar de notar que pensamentos, emoções, comportamentos e reações surgem quando forças externas nos fazem parar todos os padrões normais de nossa vida diária. Tanto nossos ritmos e rotinas habituais quanto nossas reações internas à interrupção disso podem se tornar extremamente claras para nós se optarmos por aproveitar esta "pausa forçada". Se pudermos usar a parada repentina de nossas atividades normais para criar uma forte intenção de procurar compreender o significado dos padrões que estruturaram nossas vidas de formas visíveis, invisíveis e previamente inquestionáveis, podemos nos beneficiar deste momento como um despertar potencial.

Um dos significados arquetípicos do triângulo interno do Eneagrama é o mapeamento de um caminho de crescimento em três etapas, desde a identificação total com um "eu falso" até a manifestação consciente de um eu mais verdadeiro ou "essencial":

  • de "parar" para auto-observar o ponto 3 que inicia um processo de desidentificação da personalidade com a qual nos identificamos habitualmente e dos padrões inconscientes associados a ela,

  • desidentificar-se mais completamente da personalidade no ponto 6, "empurrando" consciente e energicamente a personalidade e seus hábitos para fora de nós,

  • a uma experiência consciente de "recordação de si" no ponto 9, através da qual experimentamos uma lembrança de quem realmente somos (totalmente distinta, mas conectada com a personalidade com a qual nos identificamos).

A interrupção forçada da vida, causada pelas questões vida ou morte, ficar em casa, fechar o negócio e interromper fluxos econômicos, nos levou exatamente a este tipo de "parada" coletiva que nos convida (ou nos força) a perceber quem realmente somos, ver como normalmente operamos e perceber conscientemente tudo o que acontece quando temos uma ruptura completa com nossos padrões e processos habituais.

Insight do Eneagrama: Estamos sendo convidados a parar e nos observar, a fim de quebrar a negação e outras defesas que nos impedem de ver o que está acontecendo em um nível mais profundo, dentro de nós e ao nosso redor.

É difícil parar e observar os padrões e hábitos inconscientes que nos impulsionam, independente do nosso tipo. Aqui estão algumas das maneiras como três dos tipos de Eneagrama podem ser desafiados, além de algumas sugestões de como aproveitar o desafio como oportunidade para o desenvolvimento de novas capacidades.

Três têm a tendência de se manter num constante movimento de progressão em direção às metas e realizações. Parar desafia até mesmo o mais saudável dos tipo Três a não criar um modelo de vida ativa durante o lockdown, mas de realmente desacelerar. Os Três podem parecer desligados de suas emoções, mas são tipos emocionais e quando as coisas param, ficam privados de sua estratégia central de enfrentamento que é jogar os sentimentos para longe para poder concentrar toda energia nas tarefas e objetivos de trabalho.

Mas nossas emoções existem para fornecer informações importantes sobre quem somos e sobre o que é importante para nós. E quando Três fazem o trabalho de permitir uma experiência mais consciente de suas próprias emoções, eles têm a oportunidade de experimentar mais de quem realmente são, o seu "eu real". Quando aceitam o convite para "ficar em casa" e abrandam, eles criam espaço para aprender mais sobre quem realmente são quando não estão em movimento. Quando conseguem passar mais tempo envolvidos com suas emoções e aprender a tolerar qualquer desconforto associado, podem reenquadrar o evitar de seus próprios sentimentos com autocompaixão, vendo seu caminho de crescimento como se abraçassem diretamente todos os sentimentos como saudáveis, reveladores e vivificantes.

Oitos podem achar difícil suportar o lockdown global porque são acostumados a agir, fazer avançar as coisas e expressar poder no mundo. Sentir-se constrangido e limitado pode ser desafiante para o Oito, já que estes podem ser sentimentos desconhecidos que podem gerar emoções como medo ou impotência. Pode ser difícil lidar com a impossibilidade de usar suas forças para influenciar o que está acontecendo. Embora Oitos tenham muito poder natural, esta crise está além da capacidade de proporcionar mudança de qualquer pessoa, por isso simplesmente precisamos nos conectar mais com os outros para que as coisas aconteçam.

Quando Oitos acolhem a experiência da vulnerabilidade, tanto em termos de reconhecer os limites reais de seu poder quanto de permitir mais contato com sua sensibilidade interior, eles podem naturalmente equilibrar sua capacidade de ser forte no mundo com uma maior capacidade de manifestar a maior força de todas: expressar fraquezas e confiar nos outros.

Setes podem achar difícil focar no positivo e buscar a liberdade quando experimentam as limitações forçadas deste estranho momento, além de perceberem seus caminhos de fuga mental automática bloqueados. Setes têm mentes ativas e geralmente adotam um ritmo rápido para avançar, um ritmo que agora é necessariamente retardado de forma que podem sentir desconforto. Às vezes têm dificuldade de mergulhar no momento presente sem automaticamente se distrair com possíveis cenários futuros, mas neste momento, eles podem estar tão mergulhados na situação atual que fica mais difícil pensar em uma saída.

Mas Setes podem aproveitar este tempo parando de girar em torno do ego, parando de pensar fora da caixa neste tempo decididamente "fora da caixa", e permitir-se abrandar e mergulhar na experiência do que quer que esteja acontecendo agora, mesmo que a experiência proporcione sentimentos aos quais eles não estejam acostumados, ou os obrigue a enfrentar problemas que talvez não saibam resolver. Sob seu otimismo eterno, os Setes podem ser pessimistas em acreditar que se permitirem emoções desconfortáveis, como medo, ansiedade ou dor, podem ficar presos neles para sempre. Este momento proporciona a eles uma oportunidade de aprender a permitir todas as suas emoções, enquanto desenvolvem mais fé para experimentá-las plenamente para que vão embora em seguida. Deixar entrar o sofrimento para que ele possa eventualmente partir.

#2 A oportunidade de romper com ilusões sobre conexão e criar uma conexão real.

 Este momento difícil nos oferece a oportunidade de aprender a discernir entre a ilusão da conexão e a experiência de uma conexão verdadeira, em seu sentido mais profundo, que é o contato real que tanto precisamos, enquanto os seres humanos, produzido pela separação forçada uns dos outros e pela necessidade de trabalharmos juntos para sobreviver. Isto pode incluir uma reavaliação consciente, até mesmo de alguns de nossos relacionamentos mais próximos, para nos perguntarmos se eles estão realmente servindo ao nosso crescimento ou se estamos nos relacionando com outros no piloto automático, com base no medo ou na necessidade de segurança. Alternativamente, este momento também tem o potencial de esclarecer a importância dos relacionamentos que realmente têm valor para nós, nos permitindo fortalecer e aprofundar essas conexões.

As mídias sociais, as viagens e as tecnologias de comunicação, como Internet e videoconferência, nos tornaram mais globalmente conectados do que nunca. Você pode falar com alguém do outro lado do mundo instantaneamente ou viajar para lá em menos de um dia. E temos uma economia global na qual uma perturbação em uma parte do mundo afeta imediatamente o mercado de ações em outra parte. Diariamente, muitos de nós "conversamos" virtualmente de diferentes maneiras através das mídias sociais. Facebook, Instagram, LinkedIn, Twitter e outros fóruns online nos dão a experiência de um tipo de contato e interação social que não existia há apenas 15 anos.

E, ao mesmo tempo, estamos extremamente divididos politicamente, grupos nacionalistas que alavancam a xenofobia e demonizam "o outro" têm aumentado, e altas taxas de suicídio e dependência revelam a falta de verdadeira conexão social e apoio humano em nosso mundo de hoje. O teor e a substância da interação interpessoal nas mídias sociais podem ser falsos, controversos ou superficiais, ao mesmo tempo em que avança a percepção da interconectividade. E globalmente, Brexit, Trumpismo, e a ascensão de uma espécie de nacionalismo de mente estreita em diferentes países sugerem um movimento de afastamento de uma maior unidade e compreensão transcultural em direção ao aumento de barreiras, suspeitas, hostilidade e separação.

À luz de tudo isso, esta crise nos revela nossa igualdade essencial como seres humanos, o lado potencialmente positivo da interconectividade global e da interdependência, bem como a realidade de que precisamos trabalhar juntos para sobreviver. Meu sócio e amigo professor, Urânio Paes, publicou recentemente um pequeno vídeo no qual apontou um exemplo importante da "lei dos três", um dos princípios universais fundamentais do Eneagrama - a dialética entre igualdade, liberdade e fraternidade. Precisamos de maior fraternidade para equilibrar as tensões entre igualdade e liberdade que, sem controle, levaram em muitos casos a países com um nível perigoso de desigualdade econômica e hostilidade para com aqueles que são diferentes, além de migrantes forçados a buscar refúgio em outros países por questões de insegurança.

Esta emergência internacional exige absolutamente que trabalhemos juntos numa ação coordenada com outros países, no exato momento em que a cooperação global entre os líderes se desfaz. Estamos sendo obrigados a contar com uma situação em que, sem algum tipo de despertar e diante da tendência a um maior isolamento, o nacionalismo e o interesse próprio podem colocar em perigo nossa sobrevivência como espécie.

Este vírus não discrimina classes sociais e atravessa todas as fronteiras. Nós precisamos uns dos outros para sobreviver neste planeta e esta crise traz isto em foco. Os e-mails que temos enviado e recebido agora começam ou terminam com um desejo de "segurança e saúde para você e sua família". Pequenas gentilezas entre estranhos se tornaram mais destacadas, mais significativas e mais pungentes, em um momento em que cada outra pessoa que você encontra também pode ser um agente infeccioso de doenças.

Mas "infecção" pode significar ser contaminado por um vírus que ameaça a vida ou ser levado por um gesto de amor e generosidade que sustenta a vida. Podemos ser derrubados pelo medo da infecção por um micróbio viral mortal ou infectados por um sorriso espontâneo de um estranho ou de uma mão amiga na necessidade. Em todos os lugares há novas experiências de bondade e apoio como a cordialidade de alguém no supermercado que deixa você levar os últimos rolos de papel higiênico ou o cuidado do vizinho que vem se apresentar. Ainda hoje eu quase não pude comprar um café na cafeteria local porque eles não estavam aceitando dinheiro e eu só tinha uma nota de dez dólares, quando outra cliente imediatamente se ofereceu para comprar meu café com seu cartão de crédito.

Examinar o papel de nossos instintos pelas lentes do Eneagrama também ressalta outro ângulo sobre isto.

As pessoas que têm o instinto social dominante, o impulso de se concentrar no sistema maior ou no coletivo, podem ser especialmente acionadas agora, de formas boas e também desafiadoras. Essas pessoas podem sentir a dor de não serem capazes de se conectar com os outros das formas habituais. Podem sentir-se desafiadas pela situação global de maneiras únicas pois tendem a ter sensibilidade para situações em que, coletivamente, as pessoas entram em desacordo de maneiras que ameaçam as dinâmicas individuais e de grupo em larga escala.

Mas se os "sociais dominantes" usam este momento como uma oportunidade de voltar seus dons para uma ação coletiva inspirada no todo, podem servir como líderes que nos ajudem a crescer através da crise, líderes de quem tanto precisamos neste momento. Se puderem se comunicar mais e liderar outros na ação para avançar na cooperação e maior compreensão entre grupos e culturas, podem nos ajudar a emergir desta pandemia em um lugar mais saudável e como uma comunidade global.

Esta emergência global também pode especialmente engatilhar pessoas com instinto de autopreservação dominante, podendo torná-las mais temerosas ou mais ansiosas do que o normal. Podem ser atraídas pela forma como suas vidas e meios de subsistência são ameaçados de um jeito que fique difícil de administrar. E pode ser difícil se sentirem seguras para se aproximar dos outros da maneiras que mantenham as conexões que sustentam a vida.

Mas, se os subtipos autopreservação dominantes puderem aproveitar a oportunidade proporcionada por esta crise para encontrar formas conscientes de ficar a salvo e trabalhar contra sua tendência de se contrair diante do medo, podem usar isto como uma oportunidade para se conectar de formas saudáveis consigo mesmos e com os outros. Isso pode ajudar essas pessoas a se envolverem em muito autocuidado, permitindo-se pedir apoio e trabalhar contra as tendências de ceder ao medo, de concentrar-se obsessivamente em ameaças ou de se comportar de maneiras que as tornam mais isoladas e temerosas.

Embora seja menos claro o modo como esse desastre específico pode ativar o instinto sexual, podemos imaginar que, para muitas pessoas que têm um instinto sexual dominante, isso pode significar se tornar mais controlador e assertivo, mais intenso ou intensamente emocional, ou mais competitivo e protetor de indivíduos e relacionamentos especiais. Pessoas com uma influência dominante do instinto social podem agir de maneiras diferentes se não estiverem fazendo um esforço para serem mais conscientes de suas reações estressantes neste momento, incluindo focar demais em pessoas específicas em suas vidas, querendo exercer controle sobre maneiras que podem não ser possíveis ou aconselháveis, e experimentando ataques de raiva quando as coisas em seu mundo não estão sujeitas ao seu controle.

Mas se os subtipos sexuais puderem usar esta oportunidade para aumentar a autoconsciência, podem canalizar sua intensidade e assertividade naturais para outras causas positivas, sujeitar intencionalmente seu desejo sexual a um foco maior no domínio social/coletivo e aplicar seu cuidado e atenção a uma gama mais ampla de pessoas em suas vidas, não apenas aos habituais.

É importante ressaltar que este pode ser um momento de reagrupamento, de reavaliar e recalibrar o que cada um de nós precisa dos relacionamentos, o que nos permitimos receber e quão profundamente nos permitimos conectar. Será importante que pessoas de todos os tipos percebam como podem ser resistentes a criar conexões profundas ou mais amorosas de maneiras que talvez não vejam, e aproveitem esta oportunidade para trabalhar contra essas tendências. Tempos de sofrimento podem dar início ao crescimento se os enfrentarmos conscientemente, além de poderem esclarecer questão sobre quais pessoas precisamos nos conectar porque elas estão, assim como nós, em um caminho consciente de autodesenvolvimento. Estar engajado em um trabalho sincero de crescimento interior significa necessariamente estar mais conectado com pessoas que também estão fazendo um trabalho interior intencional e se afastar daquelas que não estão.

Insight do Eneagrama: Estamos sendo convidados a explorar o que define a conexão real, nossas verdadeiras necessidades relacionadas à conexão e maneiras de criar uma conexão mais profunda em nossas vidas com base na verdade.

Às vezes, Dois podem se contentar com conexões falsas ou superficiais quando o que eles realmente querem são relacionamentos mais profundos e baseados em amor real. Podem temer a intimidade, se contentando em obter aprovação em vez de fazer o que for preciso para construir conexões mais profundas. Podem, com base no orgulho, pensar que são “bons em relacionamentos” por causa da atenção que dispendem em apoiar os outros quando, na realidade, se impedem de receber o amor e outras coisas boas que os outros podem realmente querer trocar. Podem se sentir desafiados a se conectar em um nível mais profundo por medo de intimidade ou falta de experiência, sendo realmente capazes de permanecer abertos ao outro quando não podem controlar como os outros os veem ou se serão rejeitados.

Dois podem trabalhar contra essas tendências, aproveitando a oportunidade dessa estranha pausa para dizer com mais verdade o que sentem sobre as pessoas e o que querem e precisam delas, mesmo que nem sempre consigam o que querem dos outros. Isso os ajudará a aprender a renunciar a um senso de controle nos relacionamentos, expressando suas reais necessidades, comunicando-se mais honestamente sobre o que está em seus corações e tendo a coragem de receber o que quer que seja, desejado ou não, em vez de tentar administrar impressões ou evitar a verdade.

Quatros muitas vezes se sentem desafiados nos relacionamentos, embora concentrem muita atenção na conexão e na desconexão. Quando fixado na personalidade, nenhum de nós realmente consegue o que busca nos relacionamentos – é preciso ir para um nível mais alto. Quatros podem se concentrar demais em seus sentimentos e fantasias internos sobre o que está acontecendo em vez de discernir a realidade da relação do lado de fora de si. Podem ser pegos comparando-se com os outros, se concentrando no que lhes falta, no que está faltando nos outros ou nas situações. E podem assumir que não são dignos de alcançar a conexão que desejam e desistir de maneiras que não percebem. Podem se proteger de serem verdadeiramente abertos à conexão, aumentando inconscientemente o drama de emoções intensas ou assumindo muita responsabilidade por gerenciar o que está acontecendo nos relacionamentos (e depois se fechando ou ficando ressentidos).

Mas quando Quatros equilibram intencionalmente sua capacidade interna de sensibilidade emocional com mais empatia e sintonia com os sentimentos e necessidades dos outros, podem alcançar com mais força as conexões profundas que desejam. Quando conseguem superar os altos e baixos de seus estados emocionais vacilantes, podem ver os relacionamentos e sua própria capacidade de receptividade com maior objetividade e equanimidade.

Cincos podem se sentir desafiados a manter conexões porque se desligam automaticamente da emoção e se retiram dentro de si mesmos em momentos de dificuldade emocional. Podem querer se conectar, mas têm dificuldade em saber como fazer isso sob a pressão de todos os diferentes desafios que acontecem em um momento como este. Pode ser difícil resistir à pressão para se interiorizar e precisam de muito tempo para processar seus sentimentos sobre o que está acontecendo. Podem ceder à tendência de ficar sozinhos e não acessar o externo, tanto com pessoas a uma certa distância social quanto em suas próprias casas.

Mas quando conseguem processar conscientemente suas emoções, tanto dentro de si quanto com os outros, conseguem permitir mais conexão através da experiência do desafio compartilhado. Quando podem trabalhar intencionalmente contra o desejo de se retirar e permitir-se mais sentimentos e mais apoio dos outros, podem, em tempos difíceis, usar esse tempo como oportunidade de praticar o movimento em direção aos outros em vez de se afastar.

#3 A oportunidade de desenvolver nossa capacidade de responder a choques em nossas vidas com flexibilidade e aceitação.

Lidar com os choques do mundo real pode nos ajudar a criar maior resiliência e expandir nosso “kit" de ferramentas e estratégias adaptativas para além das poucas geralmente associadas ao nosso principal tipo de personalidade. Cada personalidade do Eneagrama representa uma maneira de sintonizar apenas cerca de um nono da realidade - prestando atenção às mesmas coisas repetidamente. Choques no sistema podem criar novas perspectivas e nos levar além da nossa zona de conforto.

Nos ensinamentos sobre o "Eneagrama Processual", a abordagem de trabalho que se concentra nos números como "pontos" do diagrama e símbolos de movimento perpétuo em oposição à tipologia, o ponto 3 representa um "ponto de choque". Urânio e eu estamos trabalhando em um novo modelo de "níveis de consciência" baseado no Eneagrama como um mapa de um processo de transformação. Neste modelo de "níveis" do Eneagrama, se o ponto 1 é uma espécie de "primeiro passo" em torno dos pontos do diagrama (e não "Tipo 1"), e o ponto 2 é uma espécie de segundo passo ou nível de evolução (e não "Tipo 2"), o ponto 3 não é tanto um "3º passo", mas um "ponto de choque". Um ponto onde a tensão de dois opostos é deslocada para um nível superior por algum tipo de "força reconciliadora". Este ponto de choque é iniciado por algo vindo de fora, uma entrada externa que não controlamos, a não ser pelo esforço de recebê-lo com maior consciência, em oposição ao hábito inconsciente.

Embora o significado deste tipo de processo de ponto de choque seja complexo, ele nos diz que podemos alcançar mais crescimento, uma perspectiva mais ampla e mais flexível se aprendermos a fluir com os choques. Usá-los de forma consciente para promover nosso desenvolvimento e vê-los como uma oportunidade para mover o que está acontecendo para um nível mais elevado em oposição a ficar onde está, ou a "cair de volta" para um nível mais baixo de consciência, tanto em nível individual quanto coletivo.

Por exemplo, acho que na sociedade ocidental de hoje, especialmente nos EUA, a maioria de nós tem dificuldades em alcançar um bom "equilíbrio entre trabalho e vida pessoal". Para muitos, a tensão entre "focar no trabalho" e "prestar atenção ao que sustenta uma vida saudável" se inclina fortemente em direção ao trabalho. Agora, todos somos forçados a ir para casa para fazer, profissionalmente, o trabalho a ser feito no meio de nossas vidas pessoais. Temos sido empurrados mais para a parte da vida e mais afastados da parte do trabalho de um jeito que tem sido incrivelmente desorientador. E mais uma vez, isto pode causar angústia se lidarmos com isso inconscientemente, ou pode ser uma oportunidade para uma reflexão mais profunda, se lidarmos com mais consciência.

Pelo lado positivo, o choque pode criar novas formas de pensar o trabalho e a vida. Nos obriga a desacelerar, está nos dando mais tempo para pensar e refletir, está criando mais tempo com nossas famílias, seja para o melhor ou para o pior. E está nos fazendo encaixar nosso trabalho em nossas vidas de novas formas em vez de encontrar tempo para a vida em meio a uma ênfase predominante no trabalho. Se você tem evitado qualquer coisa em sua vida, talvez volte a se concentrar naquilo que não tenha querido enfrentar ou no equilíbrio entre sua vida profissional e familiar. Se estiver insatisfeito com seu trabalho, isto proporciona uma reorientação se você puder aproveitar a oportunidade para criar algo novo em vez de se concentrar demais no que pode estar perdido ou não funcionando mais.

Às vezes uso a sabedoria do I Ching, o livro chinês da mudança, para me orientar na compreensão da melhor maneira de ver as mudanças que acontecem em minha vida. A visão do choque do I Ching é que o choque é bom porque nos lembra que, se mantivermos a mente aberta, eventos perturbadores podem ser construir algo positivo: "Ao invés de reagirmos cegamente ao choque, ajustamos nossa atitude à aceitação, até mesmo saudando o desafio imposto pela nova circunstância. Em todos os casos em que nossa atitude é abalada (mesmo no menor grau), estamos aqui aconselhados a manter nosso equilíbrio interior".

Insight do Eneagrama: Estamos sendo convidados a explorar formas de expandir para além dos limites estreitos da personalidade com a qual nos identificamos, nos possibilitando construir mais flexibilidade, resiliência, empatia e compaixão.

Somos mais do que nossas personalidades. Desenvolvendo novas capacidades diante de choques, crescemos além de um conjunto fixo de reações padronizadas e desenvolvemos mais nosso potencial superior, tanto individualmente quanto em nível coletivo.

Uns podem ter dificuldade em fluir com as mudanças que estão acontecendo agora, pois habitualmente dependem da adesão a ritmos, rotinas e processos específicos que estruturam sua experiência cotidiana e os ajuda a manter uma sensação de bem-estar no mundo. Uns abraçam a previsibilidade e a capacidade de gerenciamento da regularidade, pois se sentem apoiados pelas regras de uma determinada situação e pela sensação de controle sobre a obtenção de resultados positivos ou ideais. Pode ser mais difícil para os Uns se adaptarem às circunstâncias radicalmente alteradas do que outros tipos porque eles sentem uma necessidade profundamente enraizada de controle, podendo inibir seus próprios impulsos de sentir ou reagir às rupturas que estão acontecendo agora.

Mas os Uns podem aproveitar os tempos atuais para praticar mais flexibilidade, adaptando-se mais às necessidades particulares do momento e permitindo que mais emoções e impulsos os guiem. Em vez da tendência usual para a autossuficiência, será bom que aprendam a depender dos outros, esforçando-se para tolerar um padrão mais baixo do que considera ideal em favor de serem mais abertos à colaboração e delegação. As pessoas também se beneficiam agora de ajustar sua visão do que é “ideal” em uma determinada situação versus o que pode ser alcançável, já que pode não haver tempo para a perfeição no momento.

Seis podem ficar calmos em uma crise porque seu modo normal de personalidade tende a se preparar para o pior. Mas em um período prolongado de uma emergência global sem precedentes, os Seis podem se sentir ansiosos quando percebem a gravidade e o escopo dessa pandemia e veem as maneiras pelas quais a vida cotidiana foi alterada e ameaçada. Seis podem lutar para conter seus medos e ansiedades às vezes, já que há tantas maneiras pelas quais a vida normal passou a estar fora de controle e incerta. E suas respostas específicas ao medo que naturalmente pode ser desencadeado agora provavelmente variam de acordo com o subtipo, pois os três Seis variam mais entre si do que a maioria dos outros tipos.

Mas, como um Seis, sua resposta pode ser tornar-se altamente medroso e cheio de dúvidas. Nesse caso, pode ser benéfico olhar para este momento de choque como uma oportunidade de fortalecer sua habilidade de lidar com o medo com consciência, buscando boas autoridades com quem aprender a direcionar suas escolhas e comportamento. Ou contrariar o medo com força e determinação. Também é possível usar esse tempo como outra oportunidade para incorporar sua força e coragem e desenvolver mais confiança e fé nos outros e nos poderes superiores, seja em alguns dos líderes heroicos que estão surgindo neste momento ou em um poder espiritual superior, que pode se manifestar de maneiras misteriosas e usar o que está ocorrendo como meio de despertar e de mudança positiva.

Noves tendem a resistir à mudança quando presos pelas tendências habituais de seu tipo de personalidade. Quando operam em um nível menos consciente, podem adormecer para seu próprio poder e força de iniciar ou administrar circunstâncias imprevisíveis. Podem, também, resistir teimosamente a prestar atenção às maneiras que se mantém confortáveis ou que não ativam sua capacidade natural de liderança se forem "pegos" pela preocupação com os outros ou desorientados pela falta de harmonia.

Mas os Nove podem usar esta crise como uma oportunidade, tornando-se mais intencionalmente autorreflexivos e mais focados no desenvolvimento de uma agenda clara sobre o que podem fazer para empregar suas forças naturais e energia poderosa. É um momento para os heróis surgirem e, embora os Nove possam relutar em ser líderes, eles também podem ser líderes altruístas e eficazes. Aproveitando este momento para assumir sua autoridade, criar conflitos necessários ao serviço de propósitos mais elevados e sair na frente quando suas habilidades particulares são necessárias, eles podem aproveitar este momento para se desenvolver e ajudar os outros. 

Por fim, aqui estão mais duas oportunidades que vejo como nascidas da crise atual. É minha esperança que também possamos aproveitar o momento, embora seja doloroso, para focar em cultivar mais verdade em torno disso. Quando cada um de nós pode fazer nosso trabalho interior, isso faz a diferença coletivamente. Obrigado por ler até aqui.

#4 A oportunidade de aprender a diferença entre o que é verdadeiro e falso, o que é ilusão e o que é realidade, produzida por uma crise de saúde pública emergente em nosso ambiente político e cultural de “notícias falsas" e "pós-verdade". Uma emergência real de vida ou morte tem uma maneira de esclarecer o que é verdade e o que não é.

#5 A oportunidade de escolher o amor e a coragem em vez do medo e da ansiedade produzidos por uma crise global que, compreensivelmente, inspira medos legítimos de perder a vida, os entes queridos, ou o próprio sustento.

 O momento atual trouxe um foco claro como a realidade de que precisamos uns dos outros para sobreviver. Quando competimos e nos comparamos, ficamos alienados das pessoas ao nosso redor, mas quando colaboramos e cooperamos, progredimos em direção a um estado mais elevado de ser e um mundo melhor.

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BEATRICE ENTREVISTA IAN MORGAN CRON, AUTOR DE THE ROAD BACK TO YOU